PARU: primeira proposta de Avaliação da Reforma Universitária

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Até o início da década de 1980, a produção acadêmica no âmbito da Avaliação da Educação Superior no Brasil tinha pouco destaque. Entretanto, a partir deste período, houve crescente interesse sobre o tema. Em 1983, por iniciativa do Conselho Federal de Educação, foi desenvolvido no Brasil o Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU). O projeto, proposto por Edson Machado, então diretor-geral da Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal Superior (CAPES), nasceu por conta das constantes greves mantidas nas universidades federais. O objetivo principal era conhecer as condições reais nas quais se realizavam as atividades de produção e disseminação do conhecimento no sistema de educação superior no país por meio de estudos, pesquisas e debates, tanto da implementação das propostas da reforma universitária de 1968, quanto das particularidades institucionais e regionais. “A preocupação principal quando apresentei o PARU foi avaliar a contraposição entre a qualidade e a expansão quantitativa do ensino, que estava acontecendo muito rápido. Naquela época, as instituições estavam se modernizando e havia ainda a questão da pós-graduação, que ganhava cada vez mais espaço no cenário acadêmico brasileiro. A ideia era orientar os investimentos do MEC para essas áreas”, explica o professor Edson Machado.

Para a concreção dos objetivos do PARU, os membros consideravam necessário a participação da comunidade acadêmica, realizando “um processo de reflexão sobre suas próprias práticas de ensino” e de outros setores externos às instituições, sobretudo, na expressão de demandas e expectativas quanto ao papel da universidade e sua organização. Segundo afirmado, o próprio PARU foi elaborado mediante consulta a “segmentos representativos da comunidade acadêmica. Para tanto, foi designado um Grupo gestor composto pelo próprio Edson Machado, como coordenador, e acompanhado por Sérgio Costa Ribeiro (coordenador técnico), Isaura Belloni Schmidt (coordenadora técnica substituta), Maria Stela Grosi Porto, Maria Umbelina Caiafa Salgado, Mariza Veloso Motta Santos, Mônica Muños Bargas e Orlando Pilatti, pesquisadores com experiência em análise e acompanhamento de projetos. “A intenção do grupo era ainda melhorar o diálogo entre os professores e o governo. Nós não sabíamos muito bem os motivos que induziam tantas greves naquela época e isso atrapalhava o desenvolvimentos das instituições de ensino. Uma proposta do PARU era justamente melhorar essa realidade”, recorda Machado.

A proposta do PARU destacava a diferença entre a norma ideal sancionada e a operacionalização desta na realidade. Propunha questionar o conhecimento produzido, levando em conta o contexto social e econômico no qual estaria inserida a IES. Assim, pretendia desvendar como estariam sendo concretizados os objetivos de cada IES, bem como sua articulação com o uso de recursos, com as determinações externas e as relações políticas internas. A ideia era pesquisar melhor a qualidade do ensino com ênfase dada à formação do cidadão e do profissional; a relação da pesquisa com o ensino, a importância dada à pesquisa básica e aplicada, bem como sua vinculação às necessidades sociais e empresariais; a extensão e a prestação de serviços e a assistência comunitária e sua relação com as atividades de ensino e pesquisa; e as atividades administrativas e sua influência no ensino e a pesquisa, os recursos materiais, assim como as representações e aspirações do público acadêmico e não acadêmico e a dimensão política que perpassa por todas essas atividades.

O Grupo Gestor do PARU considerou as instituições como unidade de análise e destacou o papel da avaliação, que nesse Programa foi entendida como uma forma de conhecimento sobre a realidade e uma metodologia de pesquisa que permitiria não só obter os dados, mas também fazer “uma reflexão sobre a prática”. Assim, o PARU, com a finalidade de realizar uma pesquisa de avaliação sistêmica, recorreu à “avaliação institucional” e considerou à “avaliação interna” como procedimento privilegiado. “A grande dificuldade foi a falta de entendimento das instituições de ensino em relação ao PARU. Eles pensavam que era um instrumento de fiscalização ao invés de avaliação”, afirma o professor Edson.

O PARU não chegou a apresentar seus resultados, pois foi desativado um ano depois de começado, devido a disputas internas ao próprio Ministério da Educação, em torno de quem competia fazer a avaliação da Reforma Universitária. O fim do projeto deixou inconclusos a coleta de dados e os estudos institucionais iniciados, que tinham contado, inclusive, com financiamento público, pois diferentes concepções de educação superior começavam a aparecer. Os membros do PARU (Edson Machado de Souza, Isaura Belloni, Orlando Pilatti e Sergio Costa Ribeiro) comporiam, posteriormente, comissões ministeriais e participariam da elaboração ou execução de outras experiências de avaliação da educação superior no país.

Dada à proposta da participação da comunidade, este programa foi o precursor das experiências de avaliação posteriores no país como o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

 

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