No dia 9 de fevereiro de 2015, o Brasil comemora uma grande conquista: 22 anos do Satélite de Coleta de Dados SCD-1, primeiro satélite desenvolvido no país pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Lançado em 1993, o SCD-1 continua operacional e, embora com limitações, ainda mantém a retransmissão de informações importantes para a previsão do tempo, monitoramento das bacias hidrográficas, entre outras funções.
Na época, o primeiro satélite brasileiro tinha expectativa de apenas um ano de vida útil. Para o INPE, a longevidade do SCD-1 comprova a competência de seus grupos de engenharia, que projetaram os equipamentos, e também das equipes que mantém sua operação no centro de rastreio e controle de satélites do instituto. “Após este longo tempo em órbita, o SCD-1continua em operação e se prova um projeto de reconhecido sucesso, um verdadeiro tributo à competência da engenharia espacial brasileira. O lançamento do SCD-1 colocou o INPE entre as instituições que efetivamente dominam o ciclo completo de uma missão espacial desde sua concepção até o final de sua operação em órbita”, diz Leonel Perondi, diretor do INPE.
Além de cumprir sua missão de coleta de dados, o SCD-1 contribuiu para a cooperação com outros países, que se valeram da experiência brasileira na operação de satélites na mesma faixa.
Edson Machado, que na época exercia o cargo de secretário-executivo da Secretaria de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, foi uma das pessoas que viu no programa uma excelente oportunidade para o Brasil dar um passo importante na área espacial, bem como na qualificação técnica e no monitoramento ambiental. Entre suas contribuições para a execução do SCD-1, além dos satélites seguintes, CBERS 1 e 2, Edson viajou à China para reabrir uma discussão diplomática, que até então provocava atrasos nos desenvolvimentos dos projetos espaciais brasileiros. “Fui à China na companhia de Márcio Barbosa, que ocupava a direção geral do INPE, e outros engenheiros. Nossa missão era levantar recursos de investimentos e convencer os chineses de que o Brasil tinha condições técnicas e infraestrutura para produzir esses equipamentos espaciais. Depois de muitas reuniões, saímos de lá com boas notícias”, lembra Edson Machado.
O SCD-1 trouxe benefícios para diversos setores da indústria brasileira. Valdemir Carrara, engenheiro do INPE que participou do apontamento do SCD-1 quando em órbita, destaca outras importantes contribuições do satélite para o Brasil. “Principalmente porque ajudou a fomentar a tecnologia desenvolvida em nosso país e o aperfeiçoamento da indústria, que até então não estava capacitada. Embora estivéssemos investindo em estudos, pesquisas e treinamentos, foi com a execução do SCD-1 que a indústria espacial brasileira absorveu a capacidade para competir com o mercado internacional”, disse Carrara em uma entrevista exclusiva para o blog.
História
A primeira iniciativa que poderia ter levado ao desenvolvimento de um satélite brasileiro foi o anteprojeto do Satélite Avançado de Comunicações Interdisciplinares (SACI), que seria utilizado para fins educacionais. A educação por satélite foi vista como uma solução no contexto dos anos 70, quando o número de analfabetos no Brasil era considerado um entrave à modernização do país. No entanto, o Projeto Saci foi extinto sob o argumento de alto custo e elevado desenvolvimento tecnológico.
Fabíola de Oliveira, no livro O Brasil Chega ao Espaço, destaca que, no decorrer dos anos 70, diversos órgãos governamentais se dedicavam a diferentes projetos na área espacial. A Aeronáutica, por exemplo, trabalhava desde 1966 com um programa de pesquisas e desenvolvimento de veículos espaciais; o Ministério das Comunicações trabalhava desde 1972 pela implementação e uso de um satélite doméstico de comunicações e o Exército desenvolvia projetos para aquisição de tecnologia em materiais para mísseis e em teledireção. A Marinha também tinha diversos projetos, como o protótipo de um receptor de navegação por satélites, desenvolvido em 1971. Já o Ministério das Minas e Energia utilizava imagens de radar e satélite para avaliação de recursos naturais e o INPE, desde de meados da década de 60, recebia e processava dados de satélites meteorológicos e de sensoriamento remoto, que já vinham sendo utilizados em inúmeras aplicações. O fato é que os projetos desses órgãos ocorriam de forma independente, sem nenhuma integração maior entre as instituições. Foi esse o desafio maior: propor um programa espacial orientado para um objetivo final em comum aos órgãos voltados às atividades espaciais, tendo como meta o desenvolvimento tecnológico nacional.
Foi então que, em 1979, quando aprovada pelo governo federal a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), ficou determinado o desenvolvimento de quatro satélites artificiais, do veículo lançador e de toda a infraestrutura de solo, inclusive uma base de lançamentos. Nesta tarefa, coube ao INPE a responsabilidade pelo desenvolvimento dos satélites, sendo dois de coleta de dados e dois de sensoriamento remoto, bem como da infraestrutura de solo para sua operação em órbita.
Vale destacar que durante os dois primeiros anos da década de 80 não houve muito progresso no desenvolvimento dos satélites da MECB. Este período foi marcado pela falta de verba para o programa, implantação da infraestrutura necessária, contratação e especialização de engenheiros e técnicos vindos das melhores universidades brasileiras, criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e modificações nos projetos originais dos satélites, como no do SCD-1. Além disso, o programa espacial brasileiro sofria embargos tecnológicos, principalmente dos Estados Unidos e seus aliados da Europa.
No entanto, em julho de 1988, o Brasil assina um importante acordo com os chineses. Com o apoio deste país, o programa China-Brazil Earth Resources Satélite (CBERS) foi promissor para o futuro da construção de satélites mais complexos e sofisticados no Brasil.
SCD-1
Com 115 kg, o SCD-1 foi totalmente projetado, desenvolvido e integrado pelo INPE com importante participação da indústria nacional. Para seu desenvolvimento, o instituto investiu em laboratórios modernos e no desenvolvimento de seus recursos humanos.
O Laboratório de Integração e Testes (LIT) foi especialmente projetado e construído para atender às necessidades da MECB. Dotado das mais avançadas tecnologias para testes e integração de sistemas espaciais, o LIT/INPE é considerado um dos mais avançados complexos de laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia espacial do hemisfério sul. Neste laboratório foi integrado e testado o SCD-1.
Já a operação de lançamento foi comandada a partir do Centro de Controle de Wallops, no estado de Virgínia, costa leste dos Estados Unidos. No dia 9 de fevereiro de 1993, uma hora e 15 minutos depois da decolagem, a 83 km da costa da Flórida e a 13 km de altitude, o foguete Pegasus foi liberado da asa de um avião B52 da Nasa. Como havia sido previsto, o foguete cai em queda livre por cinco segundos antes de acionar seus motores em direção ao espaço. Poucos minutos depois, às 11h41 (hora de Brasília), o SCD-1 é colocado em órbita da Terra, a uma altitude de 750 km. Após a entrada em órbita, os primeiros sinais do SCD-1 são captados pela Estação Terrena situada no Maranhão.
Além do pioneiro SCD-1, integra hoje o sistema de coleta de dados o satélite SCD-2. Os satélites CBERS-1, CBERS-2 e CBERS-2B, quando operacionais, fizeram parte do sistema.
Quer saber mais? O blog Edson machado recomenda o livro “O Brasil Chega ao Espaço, SCD-1 Satélite de Coleta de Dados” de Fabíola Oliveira.
Muito interessante a matéria! De grande importância a função do SCD-1, porém o país tem que evoluir ainda mais no setor tecnológico. Mas como vamos fazer isso? A educação começa desde cedo, o MEC criou um programa de valorização dos diretores de escolas públicas, referente ao ensino fundamental. Temos que incentivar os nossos jovens, e criar atividades extra curriculares, para despertar ainda mais o conhecimento. Estamos evoluindo!
Muito interessante a matéria! De grande importância a função do SCD-1, porém o país tem que evoluir ainda mais no setor tecnológico. Mas como vamos fazer isso? A educação começa desde cedo, o MEC criou um programa de valorização dos diretores de escolas públicas, referente ao ensino fundamental. Temos que incentivar os nossos jovens, e criar atividades extra curriculares, para despertar ainda mais o conhecimento. Estamos evoluindo!