As confusões com o concurso do Senado Federal, realizado no último domingo (11) para preencher 246 vagas com salários de até R$ 23,8 mil, não param de crescer. Depois que a Fundação Getúlio Vargas (FGV), contratada para organizar o certame, anulou as avaliações para três cargos — de analista legislativo, nas áreas de sistemas e de suporte de sistemas, e de técnico legislativo, na área de enfermagem — por causa da troca de cadernos de provas em quatro salas de aula de uma instituição de ensino em Taguatinga, agora, uma suposta cópia de questões de outros processos seletivos aumenta ainda mais o problema. De acordo com o Jornal Correio Braziliense, a FGV clonou uma série de questões aplicadas por prefeituras e outros órgãos do país. O Correio enviou as questões que foram alvo da queixa para a FGV e, depois de analisar o conteúdo, a banca informou que investigará a denúncia.
Resposta da FGV
Nesta sexta-feira (16), o blog Edson Machado entrou em contato com a assessoria de imprensa do Senado e eles afirmaram que os problemas com o concurso é de responsabilidade da FGV. O blog entrou em contato com a FGV e eles que enviaram a seguinte nota por e-mail:
“O concurso do Senado Federal, realizado no último domingo, foi dos mais concorridos da história. A Fundação Getulio Vargas destacou um aparato técnico e logístico que permitiu que mais de 157.000 candidatos fizessem as provas nas 27 capitais brasileiras. Os problemas surgidos têm sido imediatamente enfrentados com medidas cabíveis adotadas. Os questionamentos sobre existência de perguntas já constantes em concursos anteriores, no que se refere às provas de Fisioterapia e Urologia, que abrigaram, juntas, pouco mais de 0,5% dos candidatos inscritos, serão apurados com o rigor que sempre norteou a trajetória de quase 70 anos de bons serviços prestados pela FGV ao Brasil”.
Análise do caso
Para José Wilson Granjeiro, presidente do Gran Cursos, escola preparatória que teve mais de três mil alunos prejudicados, a FGV cometeu todos os erros. “O concurso começou mal e cheio de problemas. Primeiro teve a história da cópia no edital, depois teve o caso da pessoa responsável pelo contrato estar inscrita no concurso e agora esses problemas que estão surgindo. É triste ver que uma instituição séria como a FGV está desgastando a imagem do concurso público”, destaca Granjeiro.
José Wilson Granjeiro, presidente do Gran Cursos
Para ele, organizar um certame com mais de 150 mil inscritos não é fácil, mas também não se deve permitir tantos problemas básicos, como falta de caderno de prova, barulho, gente atendendo o celular durante o exame, dezenas de questões clonadas, conteúdos cobrados fora do programa, além de questões desatualizadas e não relevantes para um profissional que vai elaborar as leis desse país. “Teve cenas absurdas, como em uma sala que tinham candidatos com deficiência visual, eles colocaram uma errata no quadro para as pessoas lerem. Como este candidato ia ler isto? Ou seja, a banca não se preparou para este concurso como os candidatos fizeram”, afirma o professor.
Para evitar situações deste tipo, o especialista destaca a necessidade de uma lei nacional de aplicação de provas. “O Brasil precisa de uma regulamentação, um código nacional de aplicação de provas. Uma lei nacional que estabeleça detalhadamente as normas gerais que um órgão contratante deve seguir durante a realização de concursos. Enquanto isto não acontecer, vamos ter este tipo de problema e isso é muito sério. O Brasil tem 12 milhões de pessoas que se prepararam diariamente para concursos públicos. Além de ser muita gente, estamos falando do futuro do país, porque são essas pessoas que vão trabalhar no governo e ajudar a impulsionar o desenvolvimento da nação. Não podemos desanimar, porque o concurso ainda é o processo mais democrático de acesso a carreira pública”, conclui Granjeiro.
O Ministério Público e a Polícia Federal estão investigando o caso para decidir o futuro do concurso do Senado.